Sabe aquele remédio que você toma quando, vira e mexe, sente uma dor de cabeça ou dor no estômago? Pode parecer inofensivo, mas alguns medicamentos tomados com frequência podem trazer sérios riscos à saúde. O livro ‘Tarja Preta’ – Os segredos que os médicos não contam sobre os remédios que você toma’, da Superinteressante, foi lançado neste mês e aborda os problemas do uso de forma errada dos remédios.
Um dos perigos é achar que remédios que não requerem receitas são livres de riscos. Outro é passar a tomar frequentemente, sem passar pelo médico, medicamentos que deveriam ser usados vez ou outra. Isso pode mascarar males que merecem investigação mais cuidadosa de um profissional. Segundo a autora, a jornalista especializada em ciência Marcia Kedouk, o problema não é “tomar um comprimido para dor de vez em quando”. “A questão é tomar sempre, aumentar a dose e não investigar as causas. A automedicação começa a se tornar um problema sério quando vira rotina”.
Confira os riscos de cinco remédios populares
Tylenol
Princípio ativo: paracetamol
Efeitos desejados: o remédio diminui o envio de mensagens aos receptores de dor e atua na regulação da temperatura do corpo, baixando a febre. Quando o paracetamol é metabolizado pelo fígado, uma pequena parte se transforma em uma substância tóxica, a NAPQI, que na maioria dos casos é rapidamente eliminada.
Riscos: para adultos, a partir de 4 gramas por dia ou 1 g de uma vez só, o fígado pode não dar conta de toda a NAPQI produzida. Nesse caso, aumenta o risco de lesões irreversíveis e falência do órgão. As crianças são ainda mais vulneráveis. As superdosagens podem acontecer porque outros medicamentos também possuem o mesmo princípio ativo, como remédios para febrem alergia e inflamação. Por exemplo, você toma um Tylenol para febre (750 mg de paracetamol) e um Resfenol (400 mg) para coriza, congestão nasal e outros desconfortos do resfriado. É 1,55 grama por dose, o que já traz riscos para o fígado.
Neosaldina
Princípios ativos: dipirona, mucato de isometepteno e cafeína.
Efeitos desejados: a dipirona diminui a dor e a febre, o isometepteno e a cafeína reduzem o calibre dos vasos sanguíneos do cérebro, enfraquecendo a dor.
Riscos: não precisa nem exagerar no consumo para se expor a dois efeitos colaterais raros, mas potencialmente fatais da dipirona. Um é a diminuição da quantidade de células do sangue, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Outro, especialmente em asmáticos, é o choque anafilático, reação alérgica grave que pode acontecer mesmo em quem está acostumado a usar a medicação. Esses riscos levaram muitos países a proibir a dipirona, como os EUA e a Austrália. Outro problema com os remédios contra dor de cabeça é que eles podem diminuir a capacidade do corpo de liberar endorfinas, nossos analgésicos interiores.
Dorflex
Princípios ativos: dipirona, citrato de orfenadrina e cafeína.
Efeitos desejados: a dipirona e a cafeína reduzem a dor e a orfenadrina inibe os comandos de contração involuntária dos músculos, produzindo relaxamento.
Riscos: além dos problemas da dipirona, a superdosagem de orfenadrina é
potencialmente tóxica. A ingestão de 2 g a 3 g dessa substância pode levar à morte. Os efeitos colaterais do Dorflex vão de boca seca e alterações nos batimentos do coração até alucinações, tremor, agitação e, em doses altas, delírio e coma.
Aspirina
Princípio ativo: Ácido acetilsalicílico.
Efeitos desejados: a aspirina é três em um. Em baixas dosagens, até 1 g, funciona contra dor e estágios leves de febre. Acima dessa quantidade, inibe processos inflamatórios, principalmente as artrites.
Riscos: a overdose costuma acontecer de forma acidental, principalmente com idosos, que usam doses maiores do remédio, e crianças pequenas. Oito comprimidos são suficientes para aumentar o risco de excesso de acidez no sangue e baixa acentuada de glicose, causando choque cardiovascular e insuficiência respiratória – distúrbios que podem levar à morte. Por causar queda nos níveis de açúcar, qualquer dosagem de aspirina pode causar hipoglicemia em diabéticos que tomam medicamentos para controlar a doença. Usar o remédio junto com outro anti-inflamatório ou álcool também é mau negócio: aumenta as chances de úlcera e sangramentos estomacais e intestinais severos.
Eno (sal de fruta)
Princípio ativos: bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e ácido cítrico.
Efeitos desejados: quando você fica empanturrado ou estressado, o corpo aumenta a produção de ácido clorídrico no estômago e isso pode irritar a mucosa, causando queimação. Os três ingredientes do sal de fruta reagem entre si em contato com a água e formam substâncias alcalinas, que aumentam levemente o pH, reduzindo a acidez.
Riscos: cada envelope de Eno tem 0,85 g de sódio. Se você tomar dois durante o dia, chegará a 1,7 g, bem próximo da recomendação máxima diária de 2 g. Some isso ao resto do sódio que você pode ter consumido na forma de refrigerante, coxinha e pizza, e você tem uma bomba, principalmente para quem tem pressão alta ou problemas do coração. Alterar frequentemente o pH do estômago ou exagerar na dose também pode provocar alcalose, que é quando o sangue e outros líquidos corporais se tornam muito básicos. Quem faz esse equilíbrio químico são os rins e os pulmões, que ficam sobrecarregados quando há desarmonia. Antiácidos ainda têm potencial de reduzir a absorção de nutrientes e de outros remédios, diminuindo o efeito deles.
Fonte: A Tarde