Os trabalhadores informais do Centro de Abastecimento da Bahia (Ceasa), que fica na divisar entre Salvador e Simões Filho, região metropolitana de Salvador, temem a privatização do local. A principal preocupação é de que seja excluídos com o novo modelo do estabelecimento.
No Ceasa, mais de 2.500 profissionais informais trabalham em vários segmentos, entre eles estão os vendedores ambulantes e os carreteiros, que são as pessoas que trabalham com frete de mercadorias. O grupo chegou a fazer um protesto no dia 31 de agosto.
O presidente da associação que representa a categoria, Osvaldo Bernardinho, destacou que os trabalhadores não são contra o novo modelo que está sendo estudado, para implementação. No entanto, eles estão temerosos sobre a forma como ela vai ser feita.
“Em momento nenhum a gente se colocou contra. Realmente precisamos de um espaço decente, mas aquele espaço decente é o que vai equilibrar tanto o empresário, quanto a pessoa que trabalha de maneira informal e não sabe o que fazer. Trabalha há 30, 40 anos aqui dentro e não sabe fazer outras coisas. E o compromisso que ele honra todo dia, de levar o pão de cada dia para suas casas, hoje eles estão preocupados. O que vão fazer?”, questionou ele.
“Aqui nós temos, 80% dos moradores do entorno que trabalham aqui dentro. Mas só que não resume a apenas esse pessoal. Vem gente de bairros de Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, de toda a região metropolitana”, pontuou.
Um grupo de pesquisadores foi ao local para fazer o levantamento, que vai estabelecer as normas com a concessão do Ceasa para a iniciativa privada.
“Contrataram um grupo de pesquisadores para fazer levantamento, para garantir o direito pós concessão. Mas o que nós estamos pedindo? Que conste também na minuta, para quem for assumir, assumir com essa diretriz, da responsabilidade do governo sinalizar para essas empresas para que não fique ninguém fora pós a concessão”.
Ceasa de Simões Filho — Foto: Juliana Almirante/G1 Bahia
Uma audiência pública será realizada pela internet nesta quinta-feira (16). No entanto, os trabalhadores argumentam que nem todos têm acesso de qualidade para acompanhar o que será decidido do destino deles.
“Nós temos uma preocupação muito grande. Aqui não temos acesso à internet de qualidade. Muitas pessoas que trabalham aqui não têm a habilidade de acessar, interagir e contribuir com uma audiência pública tão importante, porque envolve milhares de famílias que estão preocupadas com sua garantia de vida, pós esse novo modelo do Ceasa”, ponderou Osvaldo.
O carreteiro Augusto, que trabalha há cerca de uma década no Ceasa tem a mesma preocupação. Para ele, o novo modelo precisa ser acordado de uma forma que também beneficie os trabalhadores informais, que dependem da atividade para sustentar suas famílias.
“A preocupação de todos é porque a gente quer uma garantia. Eles botaram pessoas para fazer uma pesquisa, mas a gente quer uma garantia documentada. Nós queremos que eles sejam transparentes com a gente e que abracem. São milhares de trabalhadores que dependem. Nós acordamos 3h da manhã para levar nosso pão de cada dia e precisamos disso”, avaliou Augusto.
“Não é justo uma audiência dessa por acesso de internet, que nem todo mundo está vendo, está participando. Nós não concordamos com isso. Nós queremos que venha todo mundo para resolver, porque é melhor. Não adianta querer consertar uma cosia e prejudicar os trabalhadores”.
“Os trabalhadores têm que vir em primeiro lugar, porque nós levamos o sustento para nossas casas. Nós não somos contra a concessão, nós somos a favor, vai ser um modelo bom. Mas que seja bom para nós também, que a gente esteja no meio. Nós precisamos trabalhar, não temos outra maneira de trabalhar”, complementou Augusto.
Audiência pública com trabalhadores da Ceasa é realizada nesta quinta-feira
O secretário de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento do Estado (SDE), Luiz Gugé, explicou que a audiência pública citada pelos trabalhadores não impactará na presença deles no Ceasa, com o novo modelo de concessão para a iniciativa privada.
“As audiências, em todos esses movimentos, fazem parte de um cronograma normal, ditado pela lei. Nós já fizemos mais de 15 reuniões, inclusive lá no Ceasa. O pessoal da própria associação, que está reivindicando seus direitos, está participando do grupo de cadastramento. Isso não vai impactar em nada. Nós vamos terminar o cadastramento até terminar o número de pessoas a serem cadastradas”.
“A audiência pública é prevista em lei e nós precisamos apresentar a sociedade essa concessão, dizer como vai ser feita, os parâmetros, os investimentos. Isso não impactará de forma alguma na presença dos ambulantes e dos trabalhadores avulsos no Ceasa”.
Segundo Gugé, os trabalhadores informais e avulsos terão seus espaços de trabalho assegurados. Ele detalhou ainda que um cadastramento está sendo feito, para garantir a permissão dos profissionais.
“Lá, nós temos dois ou três tipos de trabalhadores que orbitam em torno do Ceasa. Nós temos os permissionários, os trabalhadores avulsos e temos os informais. Agora, nesse momento, estamos trabalhando no cadastramento desses trabalhadores informais, que moram no entorno do bairro e são trabalhadores que, todos sabem, estamos vivendo um período muito difícil de desemprego no país”, disse.
“Nós estamos fazendo um cadastramento, que começou no início da semana passada, e todos os trabalhadores informais vão ser assegurados após o processo da concessão. E também os permissionários que estão em dias com as contas de pagamento, esses também vão ser assegurados nos contratos”
Ainda de acordo com o chefe de gabinete da SDE, também há a possibilidade de que não haja aumento nas tarifas pagas pelos permissionários, de forma que o novo modelo não impacte no orçamento das famílias.
“A nossa expectativa, é de que elas não sejam aumentadas. O que nós esperamos e queremos é regularizar e regular o serviço. É claro que o ambulante que vai trabalhar lá vai ter que ser identificado, vai ter que ter um crachá, um colete, para ser identificado. Para acabar, inclusive, a concorrência desleal, já que tem pessoas que pagam para entrar lá”.
Atualmente, o Ceasa movimenta mais de R$ 140 milhões na Bahia e a previsão da SDE é que, com os novos investimentos e concessão, esse valor aumente.
“É um equipamento extremamente importante para a Bahia. Um equipamento que movimenta mensalmente em torno de 45 toneladas de hortifrutigranjeiros, movimentando em torno de R$ 145 milhões mensais, o que leva, em um ano, a R$ 7 bi. Com essa concessão, queremos ampliar e dobrar ao fim de quatro anos, dos novos investimentos”.
G1 Bahia.
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