Suingue, quebradeira e até piano de cauda no palco do Festival Virada


Terceiro dia do evento trouxe a ‘quebradeira’ de Igor Kannário e da La Fúria

Prestes a se despedir do cargo de vereador para virar deputado federal (sua mais recente evolução), Igor Kannário deu adeus a 2018 trazendo para o palco do Festival Virada Salvador um pouco da sua evolução musical, presente no novo disco, ‘Kannário Evollution’. Com direito a paletó, gravata borboleta e a música Força Estranha, tocada em um piano de calda, logo na abertura do show que também serviu de gravação para o DVD do cantor, no terceiro dia do festival, o pássaro pagodeiro mostrou, porém, que a quebradeira continuará presente nas suas apresentações.

Com evolução ou não, na mesma noite em que a banda La Fúria reforçou ainda mais a swingueira, o repertório de Kannário misturou músicas do novo disco e antigos sucessos como Eu Sou Favela e Vou Morrer Favela.

“Eu tô aqui para dizer a vocês que roupa não muda o jeito de ninguém”, avisou logo Kannário, ao tocar Covardia. “Nunca me comparem com os políticos passados. Eu sou de vocês!”, disse ele, que cancelou a entrevista coletiva após o show.

A versão Evollution do Kannário trouxe a melódica Novinha Pode Pá, que o público cantou do início ao fim, e Piveta Milgrau, que tem romantismo e suingueira juntos. Nesta última, a noiva de Kannário dançou no palco, abraçou e beijou o artista. “Tá muito burocrático viu Kannário”, gritou. Kannário ainda emendaria com outra música suave, com participação de Saulo de Tarso. “Toca o pagodão, aê!”, reclamou outro na plateia.

O cantor dividiu o palco com alguns convidados

Pedido atendido. Depois que tirou o paletó e a gravatinha, Kannário meteu logo Embrazando e, com participação do ex-rival Eddye City, largou Disse Me Disse. Os fãs que se espremiam na frente do palco garantiram que gostaram do novo Kannário, mas apontam como sucessos para 2019 as faixas mais raiz do álbum, como Bonde Desgovernado e Pivete Botando.

“Bonde Desgovernado vai ser a música do Carnaval. Eu acho que Kannário nunca vai abandonar a quebradeira. É a essência dele”, acredita o autônomo Alessandro Soares Sobral, 26 anos, fã do artista desde a época do Swingue do P, sua primeira banda.

Fãs descem de galera

O sol ainda agredia bastante quando Alessandro e seu ‘bonde desgovernado’ (cerca de cem jovens fãs de Kannário) chegaram do Bairro da Paz, umas quatro horas antes da apresentação. Eles acreditam que a evolução musical e política do Kannário não vai afastá-lo do seu público. “Vamos ver como vai ser agora que ele vai ter que ir para Brasília, mas acho que ele vai dar um jeito de conciliar a vida dupla”, disse Alessandro, lembrando que Kannário tem show marcado para amanhã, no interior da Bahia.

Público aproveitou para requebrar e treinar para o Carnaval

Outro fã das antigas que chegou cedo à Arena Daniela Mercury, o auxiliar de serviços gerais Lismar Macedo disse que “vai ver da colé” para tirar suas conclusões sobre o novo Kannário. Musicalmente, ele não vê problema nas experimentações, mas politicamente tem algum receio. “Vai depender do caráter dele. Até então ele demonstrou ser um homem de personalidade. Acho difícil que deixe de lado a carreira artística”.

O que ele acha difícil mesmo é vencer o preconceito com o público de Kannário. “É uma massa que ninguém quer. A mesma coisa que o público do Chiclete sofreu uma época. Kannário tá tentando entrar no meio da alta sociedade para diminuir isso. Vamos ver!”.

Grávida de sete meses, no meio do público, a autônoma Kelly Santos, 22 anos, adorou a nova roupagem do passarinho: “Tá mais lento, mas tá massa!”.

É, não tem jeito! Para a maioria, seja no romantismo ou na suingueira, com a percussão ou o piano de cauda, Kannário é Kannário. “Ele é uma inspiração pra gente que vem da favela e não tem muito na mão. Ele mostra que a gente pode conseguir muito mais na vida”, disse Mateus Ribeiro, 20 anos, que mora na Ribeira.

As amigas Bruna Santoro dos Santos,16, e Kelly Santos, 18, por exemplo, consideram Igor Kannário o melhor pagodeiro da atualidade. “O show tem aquele balanço, o pique e agonia que só ele sabe fazer. Ele é único!”, defende a fã Bruna.

Bruno Magnata agradeu aos fãs o carinho

Bonde dos furiosos

A galera que já estava agitada com o show de Igor Kannário, teve poucos minutos para descansar, pois Bruno Magnata e a banda La Fúria subiram ao palco acelerando o ritmo do público, com o lançamento da música Fábio Assunção (“Hoje eu vou beber, hoje eu vou ficar loucão”), que segundo Magnata, será o sucesso do verão baiano.

A plateia entrou na loucura. Ao longo de três músicas, o show precisou ser interrompido duas vezes em decorrência de brigas generalizadas. Após a segunda pausa, a banda voltou a se apresentar com presença policial e ânimos mais calmos. Daí em diante a quebradeira reinou.

“Estava um pouquinho apertado por aqui, mas agora deu para respirar melhor e curtir o show. Esse povo tem mais é que aproveitar para dançar, empurra-empurra só se for para arrochar”, afirmou Monique Barros, 32, que estava próxima à grade, do lado direito do palco, onde a maior parte do público se concentrava.

Do lado esquerdo do palco o público encontrou mais espaço para rebolar. As irmãs Cleide, 19, e Amanda Santos, 22, dançavam com coreografias sincronizadas em todas as músicas da banda, principalmente os sucessos como Manoel e a versão do grupo para a sofrência Baby Alô, que começa em compasso de arrocha e logo pula para a marcação do pagodão.

“O ritmo é frenético, não dá para ficar parado, aqui a gente perde mais peso que na hora do FitDance”, riu Amanda, referindo-se ao grupo de dança que se apresentava nos intervalos entre as bandas.

Durante o show, Magnata aproveitou para expressar gratidão ao público pela presença e carinho. “Quero agradecer a essa galera linda que chegou cedo para prestigiar o show da La Fúria e aproveito também para agradecer ao prefeito ACM Neto que nos convidou para participar dessa festa linda”, disse, e seguiu levantando o público.

Alexandre Lyrio e Victor Lahiri