Em reunião com o poder público, ambientalistas, empresários e sociedade organizada para discutir a implantação do aterro sanitário, através da empresa Naturalle Tratamento de resíduos sólidos em Simões Filho, o padre Cristian, que também é representante da Instituição Fazenda Natal, pediu a fala para dar uma verdadeira aula de responsabilidade social e senso de justiça, além de revelar algumas informações assustadoras acerca do “lixão”.
Em seu discurso, o padre colocou questões técnicas sobre a quantidade de resíduos destinados ao aterro e as conseqüências e impactos negativos que o meio ambiente será submetido.
“Acho que não precisa ser engenheiro para se dar conta que 500 toneladas de lixo por dia, somam mais de 180 mil toneladas por ano e não pode ser outra conseqüência se não algo muito negativo, como a poluição. Quero falar de um aspecto que me pareceu muito interessante que é a justiça. Muitas das comunidades aqui não foram tomadas em conta nesta pesquisa de apresentação da Naturalle. Nós queremos dizer NÃO, porque o lucro de poucos é o prejuízo de todos nós aqui e mais, muito mais. E esse prejuízo será um prejuízo de saúde. Se fomos considerar 180 mil toneladas por ano, durante 30 anos isso para o meio ambiente é irreversível”, explicou ele.
O padre também citou a questão do prejuízo para os empresários que possuem negócios no local e da comunidade em torno do Vale do Itamboatá, que serão diretamente atingidos pelo aterro.
“Também não queremos o lucro de poucos desvalorizando os nossos imóveis. Aqui todos nós temos casas, que construímos com muito suor e com muito trabalho, esses são os bens que nós conseguimos nas nossas vidas depois de muitos anos, e sabemos que se este empreendimento for instalado neste lugar, vai desvalorizar todos aqui. Todos os nossos terrenos, casas, bens perdem o valor e isso é injusto. È injusto que com o lucro de alguns nós percamos todos os bens que conseguimos dificilmente na vida”, salientou.
O padre que é um dos fundadores da Fazenda Natal, contou que construiu a instituição a partir de doações e agora corre o risco de perder o imóvel diante da proximidade com a construção da Naturalle.
“Para dar um exemplo, a Fazenda Natal foi construída só com doações de empresas privadas e de pequenas pessoas que doavam R$ 10, R$20 para ajudar nesta obra. Será que é justo hoje dizer: as doações que vocês fizeram durante 25 anos deram lugar a este empreendimento. Também é injusto que o lucro de poucos destrua a nossa natureza, por que como já havia dito, este é um dos poucos lugares que ainda possuem Mata Atlântica.
Para o reverendo Cristian, a degradação ambiental da flora e da fauna presentes na região, que inclusive está sobre proteção das comunidades em torno, demonstram a falta de cuidado do poder público e da empresa com as questões relacionadas a natureza.
“Acho que se contarmos toda esta Mata Atlântica que temos aqui nesta região, são muitos hectares protegidos pelo Quilombo do Dandá, Fundação Terra Mirim e outros. È um lugar com muita água, um lugar rico do ponto de vista do meio ambiente e nós não queremos que esse empreendimento seja em prejuízo do meio ambiente, da Mata atlântica, da água, do ar, dos animais, porque quando chegar aqui todos os animais também vão sair rapidinho, porque o mau cheiro eles também não gostam” explicou.
“Queremos preservar o nosso tesouro”, continuou o padre. “Se o aterro sanitário acontecer, mas não vai acontecer, eu sei, nós vamos ter que sair do lugar. Quem vai viver a 300 metros de 500 toneladas de lixo por dia? Quer dizer que são 50 caminhões ou mais circulando todos os dias. Se você olhar em volta do aterro de Salvador, todas as chácaras estão abandonadas. Isso significa que quem puder vai sair dali e quem não puder vai ter que ficar, para o lucro de poucos. Isto é injusto também, não só para Fazenda Natal, mas fazendo um calculo por alto das pessoas prejudicadas, isso dá em torno de 20 mil pessoas.
Além do Padre Cristian, outras instituições se manifestaram contra a implantação da empresa e esperam em caráter de urgência uma intervenção da prefeitura solicitando a interrupção das obras, já iniciadas.
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