O ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró disse em delação premiada, que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe ofereceu um cargo público em 2008 como “reconhecimento” pela ajuda que ele prestou para quitar um empréstimo de R$ 12 milhões que a Operação Lava Jato aponta como fraudulento.
Segundo a Folha de S. Paulo, esta é a primeira vez que um delator do caso envolve Lula diretamente no episódio. A publicação recorda que em 2004, o fazendeiro José Carlos Bumlai obteve empréstimo do Banco Schahin e afirma ter repassado R$ 6 milhões para o empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto.
Anos depois, a diretoria Internacional da Petrobras, comandada por Cerveró, aceitou contratar a Schahin Engenharia por US$ 1,6 bilhão para a operação de um navio-sonda, o Vitoria 10.000.
As investigações apontam que o contrato seria uma forma de o PT retribuir o grupo Schahin pelo empréstimo. Cerveró ficou na diretoria entre 2003 e 2008, e em seguida, foi nomeado diretor financeiro e de serviços na BR Distribuidora.
Na delação, Cerveró revelou que Lula “decidiu indicar” seu nome para o novo cargo “como reconhecimento da ajuda do declarante [Cerveró]”, ou seja, por ele “ter viabilizado a contratação da Schahin como operadora da sonda”. A atuação também rendeu a Cerveró “um sentimento de gratidão do PT”.
A Folha destaca que no termo de colaboração, não consta que Cerveró tenha sido indagado pelos investigadores se Lula sabia da finalidade do empréstimo concedido pela Schahin ou do sistema de “quitação” da dívida por meio do navio-sonda.
Bumlai havia admitido em depoimento que o empréstimo contraído no Banco Schahin foi usado para quitar dívidas do PT, mas isentou Lula de participação no negócio. O empréstimo, disse o pecuarista, nunca foi pago. A contratação do navio-sonda implicou no pagamento de propina estimada em US$ 25 milhões a funcionários da Petrobras, políticos e lobistas.
CPI da Petrobras
Cerveró também afirmou em delação que Lula atribuiu ao então senador José Eduardo Dutra (PT-SE) “missão de participar do ‘esvaziamento’ da CPI da Petrobras” instalada no Congresso em 2009.
Dutra, morto em outubro de 2015, tinha “facilidade de diálogo, inclusive com a oposição”, afirmou Cerveró.
Collor
O ex-diretor da Petrobras também atribuiu a Lula decisão de ter “concedido influência sobre a BR Distribuidora” ao senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL).
Segundo a reportagem, Cerveró disse que em setembro de 2013 foi chamado a Brasília para uma reunião com Collor na Casa da Dinda. No encontro, o senador afirma ter falado com Dilma, “a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora”.
Cerveró permaneceu no cargo de diretor financeiro. Segundo ele, isso ocorreu para que “não atrapalhasse os negócios conduzidos” por Collor na estatal.
Assessoria
O Instituto Lula informou nesta segunda-feira (11) que não iria se manifestar sobre as declarações do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
“Não comentamos vazamentos ilegais, seletivos e parciais de supostas alegações que alimentam a um mercado de delações sem provas em troca de benefícios penais”, afirmou o instituto.
O Palácio do Planalto também não quis se manifestar. A reportagem da Folha não conseguiu contato com os advogados nem com a assessoria do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
O PT não se manifestou nesta segunda. Após as declarações de Bumlai, o PT negou que tenha recebido recursos ilegais do pecuarista e disse que “todas as doações recebidas pelo PT aconteceram estritamente dentro da legalidade e foram posteriormente declaradas à Justiça”.
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