A Bahia tem enfrentado, nos últimos anos, a ameaça de uma crise hídrica, como ocorreu em São Paulo. Enquanto as precipitações estão relacionadas a fatores climáticos, especialistas defendem que outro problema depende da ação humana: a preservação dos mananciais.
Em Vitória da Conquista, o racionamento durou de maio de 2012 a julho de 2017. Caetité também enfrentou longo período, de 2011 a 2016. Na capital baiana, no entanto, não há mais risco em 2017, segundo a Embasa. Entretanto, para o ano que vem, tudo depende da quantidade de chuvas para abastecer os reservatórios.
A cerca de 60 quilômetros de onde mora a dona de casa Ananice está a nascente de um rio que é considerado estratégico e importante para Salvador e região metropolitana (RMS) e que ajuda a fornecer a água que cai na torneira dela e de muitos soteropolitanos: o rio Joanes.
Com 75 quilômetros de extensão, ele é responsável por quase metade (cerca de 40%) do abastecimento de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas. Mas é na cidade de São Francisco do Conde, na RMS, que ele, o principal da bacia hidrográfica que leva seu nome, brota.
Apesar de sua relevância, o Joanes, assim como outros rios que são de gestão do estado, é alvo de poluição, recebe dejetos domésticos, industriais e hospitalares, além de sofrer o impacto da ocupação desordenada nas suas margens ou em áreas próximas.
No trajeto de seu curso d’água estão, além de São Francisco do Conde, outros seis municípios: Camaçari, Simões Filho, Lauro de Freitas, São Francisco do Conde, Candeias, São Sebastião do Passé e Dias D’Ávila.
Infelizmente, os problemas no rio vão da foz, onde a poluição é mais visível, até a nascente, cuja localização desafia gestores públicos municipais e estaduais. O secretário de Meio Ambiente de São Francisco do Conde, Renato Costa Rosa, disse que a nascente estava numa fazenda chamada Gurgainha e que a prefeitura realiza monitoramento dela a cada seis meses. “A participação do nosso município é modesta, apesar da importância por ser a nascente. O rio representa muito mais para Salvador”, ressaltou.
Questionado sobre a localização, Rosa afirmou que o acesso é negociado. “É uma área particular. Sempre negociamos o acesso com o proprietário. Em alguns momentos temos facilidade e em outros, dificuldade”. Na presença da reportagem, do jornal A Tarde, o secretário ligou para um representante da Gurgainha e foi informado de que não era lá e que a nascente estaria em outra fazenda próxima, a Valadares.
Foi neste momento que um servidor da prefeitura, o gerente de fiscalização Francisco Assiz, informou que havia um imbróglio sobre a localização. “Teve resistência desde 2009. Eles dizem que não é a nascente. É um poço d’água. O comitê de bacia atesta que fica lá. Só que, como o dono vai ter algumas restrições na sua área, ele judicializou e está advogando que não é”, afirmou Assiz.
A falta de localização exata dificulta as ações de preservação. A fazenda Gurgainha pertence, segundo funcionários, ao proprietário do Hospital Aliança, Paulo Sérgio Tourinho. O administrador do local, João Carlos, disse que lá há apenas uma cisterna e negou que haja um processo para provar que a nascente não está lá. “O povo pensa que é aqui porque a gente cuida muito bem da fazenda, plantamos mudas”. Na fazenda Valadares, o administrador Fábio de Andrade também afirmou desconhecer a localização: “Já ouvi dizer que passa aqui, mas não sei se nasce aqui mesmo”.
As duas fazendas estão localizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes-Ipitanga, criada em 1999, por meio de um decreto estadual com o objetivo de proteger os mananciais destes dois rios. Dezoito anos depois a preservação da nascente ainda desafia a gestão pública.
O gestor da APA, Geneci Bras, contou que a localização é de fato desconhecida. Ele, que é técnico do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), afirmou que está sendo feito um levantamento de vários pontos na região que fazem parte da zona de influência da nascente. Esta área, segundo ele, fica na região das duas fazendas.
Segundo Bras, um grupo de técnicos irá nesta semana para o local para dar continuidade ao levantamento dos pontos de influência da nascente. As ações de preservação, segundo ele, só poderão ser realizadas após este levantamento.
Informações: Jornal A Tarde