Hoje irei dissertar sobre um assunto que ultimamente vem sendo palco de várias discussões na sociedade organizada “Violência Praticada Pelo Estado”.
Primeiramente temos que entender que o “poder de polícia” é uma prerrogativa estatal para impor restrições em prol do bem-estar coletivo e não uma ferramenta para humilhar, maltratar e matar indiscriminadamente as pessoas.
Alguns dias atrás, tive uma conversa acalorada com uma mulher negra e ativista, que de forma enfática acusava os Policiais Militares da Bahia de racistas e assassinos, pois na sua visão matavam os jovens negros e periféricos em Simões Filho, sem nenhum remorso ou arrependimento, o que nos levou a um debate mais profundo sobre as reais causas do que a sociedade entende como “violência policial”.
Vários “especialistas” da área de Segurança Pública, publicam seus vastos estudos indicando o crescimento da violência e da impunidade policial, que em suas visões, matam cotidianamente e quase sempre, os mesmos alvos: pessoas negras, em sua maioria jovens.
Só para se ter uma ideia, no Brasil em 2022 foram registradas mais de 6000 intervenções policial com resultado morte, sendo que 83% das vítimas eram pessoas negras, mesmo tendo apenas 56% de negros na população brasileira.
No governo de Rui Costa em 2022 tivemos 1.468 mortes por intervenções policiais e já no governo de Jerônimo em 2023 tivemos 1.689, um aumento de 221 vítimas, o que levou a Bahia a ultrapassar o Estado do Rio de Janeiro em número de pessoas mortas por intervenções policiais, sendo nosso Estado responsável por 22,77% da letalidade no país.
Voltando ao debate acalorado, procurei mostrar para aquela mulher que ela estava falando de uma instituição centenária, constituída na sua maioria por homens e mulheres de pele negra, onde moram também na sua maioria em periferias.
Mostrei que os valorosos oficiais e praças da PM trabalham sob pressão 24 horas por dia, pois saem das suas residências deixando para trás pais, esposas e filhos, aflitos por saberem que eles terão que enfrentar um crime cada vez mais organizado e que possivelmente darão as suas vidas por uma sociedade que na maioria das vezes os discriminam.
Policiais que são obrigados a trabalhar um dia após o outro, mesmo tendo participado a poucas horas de uma intervenção policial com resultado morte, sem que passem por um acompanhamento psicológico para ao menos perguntar como se sentiam antes da intervenção, no momento da intervenção e depois da intervenção, causando o que chamo de “normalidade mórbida”, onde a mente passa a acreditar que a morte de um ser humano é normal.
Falei que a justiça julga com rigor os crimes praticados por policiais, principalmente quando há clamor público, desviando os olhos da população para os verdadeiros culpados pela ação estatal, sendo que até mesmo o Conselho Nacional do Ministério Público não se preocupa nem ao menos em adotar uma resolução para disciplinar as investigações sobre conduta policial, para assim garantir que os promotores liderem as investigações e não fiquem apenas se atendo aos inquéritos cheios de vícios que recebem das delegacias.
Infelizmente, a maioria dos “especialistas” falam em violência policial, colocando a população contra os heróis que os defendem na intenção de esconder os erros e omissões do Estado, que é o verdadeiro culpado por várias operações desastrosas, se apegando a uma frase muito ouvida pela sociedade ultimamente “vou cortar na própria carne”! Porque não dizem “vou assumir o erro”?
Pois o erro já começa na formação dos policiais, e digo isso porque já ajudei na formação de centenas de novos policiais.
São centros de formações com salas de aulas superlotadas e sem temperatura adequada, instrutores mal remunerados e alguns que pregam uma polícia do século XIX e que não conseguem acompanhar a sociedade moderna, são equipamentos velhos e quebrados, doutrinas e regulamentos ultrapassados e principalmente recebem os novos alunos de forma bruta sem ao menos procurarem saber através da formação de rodas de bate-papo, acompanhadas por psicólogos, quais os problemas que os alunos estão trazendo do mundo civil para dentro do centro de formação, quais as suas expectativas e suas habilidades.
Para mudar certos comportamentos, os cursos de formação deveriam contar com instrutores civis na maioria das matérias, deixando para a PM as aulas de policiamento ostensivo e de inteligência, pois assim, teríamos uma polícia mais humanizada e entrosada com a sociedade.
Assim como um câncer dificilmente é curado em um estado avançado, a violência praticada pelo Estado (violência policial) deve ser tratada na sua origem, na raiz de todo o mal, dando uma maior qualidade na formação dos novos policiais, pois assim, poderíamos mostrar para a sociedade que o policial não é apenas uma “máquina de controle social” usada pelo estado, mas uma das ferramentas que junta com as demais (Saúde, Educação, Cultura, Mobilidade, Esporte…) tornará a vida de cada cidadão muito mais feliz!
Autor: Sgt Santos