O ano de 2016 começou cheio de emoção para o sírio Majd Soufan. Depois de uma longa espera, o engenheiro de 28 anos reencontrou sua mãe, Eman, que chegou para se unir a ele em busca de uma vida nova no Brasil.
Foram cinco anos de separação forçada pela guerra. Majd mora em São Paulo desde 2013, mas antes disso já havia deixado seu país para morar na Malásia, após ter se envolvido em protestos contra o governo sírio. Depois que o conflito começou, em 2011, a família foi se fragmentando. O pai continua na Síria e o irmão mora no Líbano.
O voo de Eman chegou na manhã do dia 1º de janeiro. Majd passou a virada do ano em casa, mas mal dormiu, por causa da ansiedade. Assim que viu a mãe despontando no portão de desembarque do aeroporto de Guarulhos, ele correu ao seu encontro. Foram vários minutos de choros e abraços (veja no vídeo acima).
“Eu esqueci do mundo. Corri, ela abriu os braços. Sabe como é, abraço de mãe”, relembra ele.
Naufrágio e lobos
O sírio Miguel Soufan e a mãe, Eman Haidar, no aeroporto de Guarulhos (Foto: Flávia Mantovani/G1)
Eman passou por muita coisa até chegar aqui. Professora universitária em Damasco, a mulher de 56 anos tentou manter uma vida normal enquanto pôde, mas quando viu que não havia perspectiva de fim para o conflito, decidiu sair da Síria.
O marido, que a acompanhava na fuga, foi barrado na fronteira. Ela então continuou a jornada sozinha. E passou por todo tipo de percalço no caminho: sobreviveu ao naufrágio de um bote, enfrentou horas de caminhada em estradas, pântanos e até em uma floresta onde havia lobos, quase sufocou dentro de um caminhão fechado, dormiu na rua em várias ocasiões.
Conseguiu chegar à Alemanha depois de mais de um mês de viagem, mas não se adaptou. Longe da família, dormindo em campos de refugiados e sem recursos, ela preferiu se reunir com o filho no Brasil. A ideia agora é tentar trazer o marido da Síria para São Paulo.
Nome brasileiro e Corinthians
O sírio Miguel Soufan e a mãe, Eman Haidar, na casa onde moram, na zona leste de São Paulo (Foto: Flávia Mantovani/G1)
Para tentar regularizar a documentação da mãe, Majd recorreu a órgãos internacionais como a Acnur (agência da ONU para refugiados). A passagem ele comprou com a ajuda de companheiros de trabalho.
Amigos brasileiros de Majd também doaram alguns móveis para ele começar a equipar a casa que aluga com outros jovens sírios no Belém (região leste), onde há um quarto separado para sua mãe.
A vontade de se adaptar é tanta que o rapaz adotou um nome diferente assim que chegou aqui: gosta de ser chamado de Miguel, para facilitar a pronúncia. Ele também escolheu um time nacional para torcer. “Sou corintiano. A primeira vez que eu assisti um jogo de futebol foi no estádio do Corinthians. Gostei do time”, explica.
A mãe dele não fica atrás na dedicação a se adaptar. Trouxe na mala 400 fichas de papel com palavras em português, que ela escreveu depois de pesquisar na internet. Ela já aprendeu várias: de “abóbora” a “estúpido”, de “mar” a “Ocidente”.
Enquanto aperta a mão do filho e o chama por apelidos carinhosos da infância, Eman resume, em português, o que espera de 2016: “Feliz Ano Novo”.
Fonte: G1