O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB, passou a noite em uma cela de nove metros quadrados com mais cinco detentos, no presídio Bangu 8, inaugurado por ele há oito anos. É um presídio apenas para presos com curso superior.
Os homens que dividem cela com Cabral, trabalharam com ele e também são acusados de irregularidades. O ex-governador teve a cabelo raspada e usa uniforme de presidiário, calça jeans e camiseta branca. No café da manhã, aceitou a mesma comida dos outros presos, pão com manteiga e café com leite.
Até o início da tarde, Cabral ainda não tinha recebido visitas. Essa sexta-feira é dia de visita para os outros presos. A Secretaria Estadual Penitenciária informou que, eventualmente, pode conceder uma permissão extraordinária.
Prisão
Sérgio Cabral chegou ao Complexo Penitenciário de Bangu pouco depois das 19h. Na entrada do presídio, bombeiros comemoraram e receberam o ex-governador com fogos de artifício.
Foi ele quem inaugurou o sistema de segurança do Complexo de Bangu, quando era governador, em 2008. Neste mesmo ano, Cabral também inaugurou a Penitenciária Bangu 8, com capacidade para 170 presos. Por esse presídio já passaram o empreiteiro Fernando Cavendish, ex-amigo de Cabral e que hoje cumpre prisão domiciliar, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o banqueiro André Esteves. Em Bangu 8, também estão ex-diretores da Eletronuclear presos na Lava Jato.
Na operação de quinta-feira, procuradores afirmaram que Sérgio Cabral saqueou o estado com atos de corrupção envolvendo as empreiteiras contratadas para executar grandes obras. A rotina de regalias da família Cabral e de aliados, segundo os investigadores, era bancada com a propina paga por empreiteiros que mantinham contratos com o governo.
O ex-governador e a mulher dele, Adriana Ancelmo, gostavam de viajar para o exterior, de se hospedar em hotéis de luxo e de frequentar restaurantes renomados. No Rio de Janeiro, Cabral era cliente assíduo de uma rede de joalherias. No apartamento dele, a polícia apreendeu joias e relógios de grife.
As investigações apontam ainda que Cabral teria uma lancha de R$ 5 milhões e um helicóptero registrados em nome da MPG Participações, empresa do seu ex-assessor e amigo, Paulo Magalhães Pinto Gonçalves, que também foi preso. Os pagamentos ilegais chegariam a R$ 224 milhões e incluíram mesadas para o ex-governador.
Os investigadores afirmam que o esquema incluiu a reforma no Maracanã, a construção do Arco Metropolitano, que é um anel viário, e o PAC das favelas, obras de urbanização em comunidades do Rio de Janeiro.
O Ministério Público Federal revelou que o governador era o chefe do esquema. Abaixo dele, estavam os ex-secretários Wilson Carlos e Hudson Braga, que funcionavam como operadores administrativos. Eles solicitavam e administravam o recebimento das propinas. Abaixo dos secretários, estavam os operadores financeiros José Orlando Rabelo, Wagner Jordão Garcia, Carlos Miranda e Carlos Bezerra. A função deles era repassar a propina e fazer operações para esconder a origem do dinheiro. Todos estão presos.
“O caso revelado é um exemplo clássico que retrata os efeitos avassaladores da corrupção para o Brasil e o Rio de Janeiro. A sociedade sofre muito com os feitos da corrupção”, afirma Athayde Ribeiro Costa, procurador da República. (G1)