Para o economista Sérgio Firpo, professor e pesquisador do Insper na área de mercado de trabalho, os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem, não retratam adequadamente o que foi 2016. “Traz apenas uma aparente melhora”, diz ele.
No ano passado, quem perdeu o emprego foi o chefe de família, uma situação dramática que obrigou outros membros, como filhos e a esposa, a buscar trabalho – fenômeno que elevou a taxa de desemprego. “O ano foi pior para as famílias”, diz. Em 2017, a situação começa a se reverter. A seguir trechos da entrevista que concedeu ao Estado.
Pelos dados do Caged, no ano passado foram fechadas 1,32 milhão de vagas, um número grande, mas menor do que as 1,5 milhão fechadas em 2015. Esse resultado líquido (diferença entre total contratado e total demitidos) indica que há uma melhora nas condições do mercado do trabalho?
Não. Traz apenas uma aparente melhora. Em 2015, ainda se contratava mais. Em 2016, o aumento da incerteza na política e na economia foi tão grande que houve um outro fenômeno, que se refletiu no aumento da taxa de desemprego: demitiram o chefe de família, o que levou outros membros a buscar trabalho. Assim, para cada uma pessoa que perdia o emprego, duas entravam no mercado em busca de uma vaga – a esposa, os filhos. Mesmo que tenha havido uma redução no saldo líquido negativo, em termos qualitativo, o ano de 2016 foi pior.
Então, na vida real das famílias, 2016 foi pior?
Sim. Claro. Para as famílias, 2016 foi um ano bem pior.
Qual o cenário para 2017?
Em termos de geração de emprego, 2017 não deve ser muito diferente. No entanto, a taxa de desemprego pode até começar a cair, não porque a economia consiga ter uma reação mais rápida ou porque as empresas, ainda que lentamente, voltem a contratar, mas porque outros membros da família, que tinham saído à procura de emprego, podem deixar o mercado. Isso pode ocorrer por duas razões. Com a redução da incerteza na política e na economia, a expectativa é que as empresas voltem a investir e comecem a contratar – e a tendência é que o chefe de família seja a opção. Assim, os outros membros podem deixar de procurar trabalho, o que reduz a taxa de desemprego. Também pode ocorrer o que chamamos de desalento: quem não consegue trabalho deixa de procurar, e isso também reduz a taxa.
Mas a expectativa, então, é que haverá melhora?
Acho que vamos ter uma redução na taxa de desemprego no segundo semestre, mas muito mais por causa dos fenômenos que mencionei. A tendência é que a taxa de desemprego caia mais proporcionalmente que o número de contratações que a economia seja capaz de gerar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.