O Brasil já ultrapassou a marca dos 28 mil assassinatos cometidos somente no primeiro semestre de 2017. De acordo com dados fornecidos pelas secretarias estaduais de segurança pública, foram registrados 28,2 mil homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios (roubos seguidos de morte).
Segundo os dados da estatística, são 155 assassinatos por dia, cerca de seis por hora nos estados brasileiros, onde as características das mortes se repetem: ligada ao tráfico de drogas e tendo como vítimas jovens negros pobres da periferia, executados com armas de fogo. O número é 6,79% maior do que no mesmo período do ano passado e indica que o país pode retornar à casa dos 60 mil casos anuais.
O aumento acontece em um ano marcado pelos massacres em presídios, pelo acirramento de uma briga de duas facções do crime organizado (Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho), dificuldades de investimento dos Estados na área e um plano federal de apoio que avança menos que o prometido.
Em âmbito local, as cidades com maior aumento no número de casos são Pernambuco, Ceará e no Rio Grande do Norte. Quatro dos 11 Estados que tiveram aumento no ano estão no Nordeste.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas), e ex-secretário adjunto de Defesa Social do Estado, Luis Flávio Sapori fez um estudo profundo sobre inquéritos de homicídios de Belo Horizonte e Maceió para testar essa máxima, chegando a conclusões importantes.
“Os dados empíricos apresentados até o momento confirmam que a principal motivação dos homicídios nas capitais estudadas deriva de conflitos no mercado das drogas ilícitas. Entretanto, os patamares do fenômeno são bastante inferiores ao que é geralmente propagado por autoridades políticas e de segurança pública.”
Ele explica que o tráfico e os traficantes acabam por gerar uma “difusão da violência”. “Nas relações afetivas, nas relações familiares, nas relações de vizinhança e na sociabilidade cotidiana, os comerciantes das drogas ilícitas tendem a utilizar o mesmo padrão violento de resolução de conflitos vivenciado nas relações estritamente econômicas com parceiros, com concorrentes, com fornecedores e com clientes”, diz. “E a posse da arma de fogo é elemento decisivo nesse fenômeno”, completa.
O professor destaca que as conclusões, com base nessas duas cidades, podem ser usadas na análise da realidade do País. “Isso explica boa parte do que está acontecendo nas cidades brasileiras, onde o tráfico se consolidou como matriz dos homicídios. Mas é necessário fomentar estudos locais para entender as singularidades e levá-las em consideração na elaboração de políticas públicas”, diz.
O Ministério da Justiça foi questionado sobre a elevação do semestre no País, mas não comentou. Sobre o Plano Nacional de Segurança, destaca que “os investimentos inicialmente previstos foram revisados e adequados com a realidade financeira da União e perfeitamente absorvidos pelos Estados, que adaptaram as ações propostas de modo a atingir os resultados. Paralelo a isso, ações de capacitação e doação de equipamentos estão sendo realizadas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Deixe seu comentário