Passa um pouco do meio dia quando homens e mulheres, segurando vasilhas e panelas, começam a formar uma fila em frente à tenda de distribuição de alimentos. Nem o calor de 39°C desencoraja a aglomeração, que rapidamente ultrapassa a área coberta, deixando o grupo exposto ao sol forte.
Mazeku Josephine, 18, grávida de oito meses, é uma das que aguardam uma espécie de papa amarela de cereais, que será seu almoço e jantar. Há três meses, desde que fugiu do Sudão do Sul em busca de refúgio em Uganda, ela enfrenta essa rotina -e esse cardápio rico em carboidratos e sem nenhum tipo de vegetal fresco.
Prestes a dar à luz, ela nunca foi examinada por um médico, apesar de ter contraído malária e diarreia severa nos últimos meses.
Assim como ela, outras 3.700 pessoas enfrentam a escassez de recursos em Nyumanzi, um dos chamados centros de trânsito -espécie de triagem a partir de onde os refugiados são encaminhados para campos ou assentamentos.
Apesar dos problemas, Nyumanzi é quase um oásis em comparação às outras instalações que abrigam refugiados, que sofrem com a superlotação, escassez alimentar e uma epidemia de cólera.
De acordo com o Acnur (agência da ONU para os refugiados), mais de 1 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul, enquanto outras 1,6 milhão foram deslocadas internamente devido ao sangrento e prolongado conflito no país. Apenas as crises na Síria, Somália e Eritrea produziram tamanha quantidade de refugiados.
A escalada da violência a partir de julho, com o início dos confrontos entre as tropas do presidente, Salva Kiir, e de seu vice, Kiek Machar, levou à migração em massa para os países vizinhos.
PRESSÃO NA REGIÃO
A chegada súbita de milhares de refugiados sobrecarregou Uganda, que há uma década vem implementando uma política de assentamento mais inclusiva e considerada referência pelas Nações Unidas e várias agências humanitárias.
Ao adquirir o status de refugiado, o migrante tem direito aos mesmos serviços que os cidadãos de Uganda, inclusive ao sistema de saúde, educação e permissão de trabalho. As famílias também recebem um pedaço de terra para que possam cultivar seus próprios alimentos e, assim, diminuir a demanda de donativos.
Organizações não governamentais de direitos humanos estimam que o país tenha recebido cerca de 390 mil pessoas do Sudão do Sul, sendo 160 mil desde julho.
Com campos de refugiados superlotados e sem perspectivas de resolução no conflito, o governo precisou construir outros assentamentos na região Norte do país, a mais afetada.
Apesar dos apelos nas Nações Unidas e do governo local, a ajuda internacional não foi suficiente para dar conta das demandas. Por isso, no último mês, as rações distribuídas aos refugiados que estão há mais de um ano no país foram cortadas pela metade.
“As pessoas estão fugindo porque temem por suas vidas. Nossas comunidade lhes dão boas-vindas e estão dando aquilo que podem: terra e a esperança de um futuro melhor” , disse David Apollo Kazungu, representante do gabinete do primeiro-ministro para os refugiados, em comunicado que apela por mais doações para superar a crise humanitária.
POPULAÇÃO VULNERÁVEL
Entre os refugiados, há alguns grupos particularmente vulneráveis, como crianças e viúvas.
“A violência chegou a um patamar inaceitável. Na minha vila, todos fugiram. Os soldados mataram muita gente, estupraram as mulheres. Não tive outra escolha”, conta, emocionada, Nathalina Nagu, 40.
Ela e os três filhos -de 10, 7 e 5 anos- precisaram fugir em meio a um tiroteio em julho. Desde então, ela não têm mais notícias deles, embora ache que eles também conseguiram chegar a Uganda.
Com um bebê de um mês e outras duas crianças mais velhas, Lawa Grace, 26, ficou com toda a responsabilidade de sustentar sua família. Ela deu à luz em um centro médico próximo à concentração de refugiados, onde recebeu atendimento especializado.
Mas, devido à baixa qualidade da dieta, ela diz que tem sido difícil amamentar.
“A comida não é suficiente para mim e para as crianças. É muito difícil”, conta ela. Com informações da Folhapress.
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