Direita pode tirar Dilma, mas não solucionará a crise, diz Mujica


O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica afirmou nesta quinta-feira (21) que a direita não vai solucionar a crise no Brasil tirando a presidente Dilma Rousseff.

“A direita pode pensar que magicamente, ao tirar Dilma, consertará a crise. Não podem. Pode consertar a crise em um país sem conciliar o capital com o trabalho? Não, não pode”, disse o uruguaio em Ouro Preto, onde foi homenageado com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência.

Ele afirmou ainda que há hoje no Brasil uma ilusão de que a presidente Dilma seria a responsável pela retração econômica quando, na verdade, crises fazem parte do capitalismo e, portanto, são sistêmicas.

“O Brasil se encontra hoje no ponto mais baixo da crise do próprio capitalismo. Este é um problema do sistema, mas quando há dor na sociedade, precisam encontrar em quem colocar a culpa. Vai passar um tempo e o brasileiro vai perceber que nada é tão mal nem tão ruim.” 

Mujica também foi questionado se o impeachment da petista pode ser considerado golpe. “Há um ditado popular no Uruguai que diz: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.” 

Ele defendeu ainda o voto popular e disse que ele jamais deve ser esvaziado. “As pessoas às vezes se tornam loucas, mas ainda assim são elas as que têm o direito de votar porque são as que pagam impostos”, afirmou ele, frisando que ele abordaria o aspecto institucional ou legal do Brasil.

‘PACIFICAÇÃO’ 

Sem citar o impeachment de Dilma, o governador Fernando Pimentel (PT) também ressaltou a supremacia do voto livre e popular frente às decisões do parlamento, dos tribunais e das manifestações de rua. “A única pacificação real é a que vem do voto popular, do voto livre e direto.”

Para ele, “os parlamentos representam, sim, os eleitores e têm papel fundamental, como fundamental também é o papel dos tribunais ao promoverem julgamentos no estrito limite da lei, desde que assegurados e respeitados todos os direitos constitucionais e universais”.

“Mas nada, repito nada, supera o valor absoluto da supremacia do voto popular. É dele, e somente dele, que advém a legitimidade dos Poderes.” 

EVENTO FECHADO 

Tradicional evento realizado desde 1952, a Medalha da Inconfidência foi restrita a convidados pela primeira vez desde a posse do governador petista.

Depois criticar os governos Aécio Neves (2003-10) e Antonio Anastasia (2010-14), que fechava o evento, em 2015, a Medalha da Inconfidência foi aberta ao público.

Neste ano, o governo alegou motivos de segurança para restringir o evento. Foram convidados movimentos sindicais, como CUT, e o MST (Movimento os Trabalhadores Sem Terra), que levaram faixas de apoio ao governo e com os dizeres “Cunha e Temer: traidores do Brasil”.

Também durante a cerimônia foi considerada a abertura da Marcha pela Democracia, organizada pela Frente Brasil Popular, de apoio ao governo Dilma.

O movimento de resistência ao processo de impeachment fará um ato político em Mariana, passará por outros municípios mineiros e será encerrada em Belo Horizonte na próxima terça-feira (26). Com informações da Folhapress.