Mais de 14 mil famílias vivem nas ruas na Bahia; número cresceu 240% desde 2020


Segundo levantamento divulgado pelo Correio 24 Horas, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), o número de famílias em situação de rua na Bahia mais do que triplicou nos últimos cinco anos. Em 2020, eram 4.289 núcleos familiares registrados nessas condições; hoje, esse número saltou para 14.705. As famílias estão espalhadas pelas ruas, praças, viadutos e locais abandonados em diversas cidades do estado.

Apesar do dado alarmante, especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que o número real de pessoas vivendo nessa condição pode ser ainda maior, devido à subnotificação. De acordo com o MDS, os números dos anos anteriores não refletem totalmente a realidade, principalmente porque houve falhas no processo de atualização do Cadastro Único durante a gestão federal anterior.

O Correio 24 Horas destaca que, desde 2023, o governo federal vem reestruturando esse sistema, e o percentual de dados qualificados saltou de menos de 60% para quase 90%.

A advogada e pesquisadora Eugênia Fernandes Bengard, em entrevista ao Correio, explicou que a pandemia agravou muito a situação da população de rua. Segundo ela, muitas famílias perderam o sustento e foram forçadas a viver nas ruas. Ela também citou o desmonte de políticas públicas até 2022 como outro fator que contribuiu para esse aumento.

Outro ponto abordado na reportagem do Correio é a falta de dados detalhados sobre o perfil dessas famílias. O Ministério não respondeu ao pedido da reportagem para informações sobre renda e sobrevivência média dessas pessoas. Eugênia aponta que essa ausência de estudos revela o abandono a que estão submetidas.

A pesquisadora também mencionou a importância de iniciativas locais, como a pesquisa do Projeto Axé em Salvador, que revelou que a maioria das pessoas em situação de rua na capital baiana são homens negros entre 25 e 35 anos. No entanto, após a pandemia, o número de mulheres também aumentou.

A cientista social Maria de Fátima Cardoso, também ouvida pelo Correio 24 Horas, destacou os perigos enfrentados por quem vive nas ruas. Além da violência e da falta de saúde, essas pessoas enfrentam barreiras para acessar serviços básicos. Ela defende o fortalecimento de organizações sociais e programas integrados de acolhimento como caminhos para mudar essa realidade.

A reportagem ainda cita iniciativas do governo estadual. A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da Bahia (Seades) afirmou ao Correio que mantém os Centros POP, espaços especializados em atender a população de rua. Nesses locais, são oferecidos alimentação, higiene, emissão de documentos, entre outros serviços. O governo diz repassar cerca de R$ 500 mil mensais aos municípios baianos para manter essas ações.

Outra ação mencionada na matéria do Correio é o programa Corra pro Abraço, presente em cidades como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, com previsão de ampliação para outros municípios. O foco do programa são pessoas em situação de vulnerabilidade social e jovens expostos à violência.

Por fim, o MDS reforçou ao Correio que tem investido no fortalecimento dos Centros POP e no atendimento a famílias em risco por meio do Serviço de Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), que oferece suporte social e psicológico para quem teve seus direitos violados.