Nem todo mundo sabe, mas é possível consultar os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) e saber se a água que sai das torneiras está ou não contaminada. NNos registros, que são públicos, constam que, entre 2014 e 2017, as mais recentes divulgadas, foram detectados 16 agrotóxicos na água de Salvador, sendo que 3 deles ultrapassam os limites considerados seguros no país.
Do total de substâncias encontradas na água potável dos soteropolitanos, 8 estão associadas a doenças crônicas, como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. São eles: alaclor, atrazina, clordano, DDT+DDD+DDE, Diuron, Glifosato, Lindano e Trifluralina. Na Bahia, foram encontrados agrotóxicos em 271 municípios.
No Brasil, a contaminação da água potável tem aumentado no período, passando de 75% dos municípios afetados em 2014 para 92% em 2017, uma variação positiva de 22,7% no período. No mesmo período, foi encontrado um coquetel com 27 pesticidas em 1.396 cidades brasileiras, o que representa, segundo o Ministério da Saúde, grande risco à saúde da população.
O estado de São Paulo foi onde mais se encontrou o coquetel, presente em 504 municípios, seguido por Paraná (325) e Santa Catarina (228). Mesmo se forem observados individualmente, os agrotóxicos oferecem risco e 20 deles são listados como altamente perigosos pela Pesticide Action Network, um grupo que reúne organizações não governamentais que trabalham no monitoramento da água do planeta.
No entanto, a legislação brasileira entende que apenas 0,3% de todos os casos detectados no país entre 2014 2017 ultrapassa o nível considerado seguro para cada substância. “Talvez certo agrotóxico na água não leve 15% da cidade para o hospital no mesmo dia. Mas, o consumo contínuo gera efeitos crônicos ainda mais graves”, afirmou a pesquisadora do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde afirmou que “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública” e entre os efeitos estão “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias”.
A equipe do BNEWS entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador e com a Empresa Baiana de Águas e Saneamento, mas, até o momento do fechamento da reportagem, não obteve retorno das solicitações.
Veja nota na íntegra do Ministério da Saúde:
“A qualidade da água obedece aos parâmetros do Anexo XX da Portaria de Consolidação 5/2017 do Ministério da Saúde. Nesta legislação estão definidos os parâmetros e a frequência do monitoramento que deve ser realizado no controle de qualidade da água produzida e distribuída. Para isso, são realizados 90 tipos de testes e mais de 90 mil análises mensais que aferem parâmetros de turbidez, cor, cloro, coliformes totais, metais, agrotóxicos dentre outros.
Quando à estudos para ampliar o número de substâncias testadas, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Agricultura, no momento não está realizando nenhum estudo para liberação de novos defensivos agrícolas no Estado.
Informações complementares
No tocante à água tratada, existe o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, que consiste num conjunto de ações adotadas continuamente pelas autoridades de saúde pública para garantir à população o acesso à água em quantidade suficiente e qualidade compatível com o padrão de potabilidade, estabelecido na legislação vigente (Anexo XX da Portaria de Consolidação do MS nº. 005/2017). As ações do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano são desenvolvidas pelas Secretarias de Saúde Municipais, Estaduais e pelo Ministério da Saúde por meio da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental”.
Por: Yasmin Garrido
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