Bahia se prepara para retorno das aulas a partir da segunda-feira


Um ano e quatro meses após o decreto que suspendeu as aulas presenciais em toda a Bahia, o governo anunciou a retomada da rede estadual em formato híbrido – que mescla o presencial e o remoto – para estudantes do ensino médio nesta segunda-feira, 26, e para o ensino fundamental no dia 9 de agosto.

A medida é tomada em meio ao cenário de queda das internações, leve redução de casos e óbitos e o avanço da vacinação no estado, que incluiu os trabalhadores da Educação acima de 18 anos na prioridade para a imunização.

A decisão desagrada uma parcela dos professores, pais e alunos, que garantem que este não é o momento para voltar às aulas. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Bahia (APLB) também se manifesta contrária a esta retomada.

Mães, alunos e professores

Estudante do Centro Estadual de Educação Profissional em Saúde Tancredo Neves, Erick Almeida, de 14 anos, decidiu esperar um pouco mais e não retornará à escola no dia determinado pelo governo: “Eu moro com meus avós, sou hipertenso, minha avó também e eu não vou sem vacina”, afirma. Segundo ele, a maioria dos colegas mantém com o mesmo posicionamento.

Já a confeteira Juliana Duarte, mãe do estudante João Victor, 14, não acredita que será possível garantir que adolescentes cumpram os protocolos de segurança, principalmente o distanciamento, pois a maioria não se encontra há muito tempo:

“Eu acho precipitado. Observo que adulto não está se cuidando, imagine criança, que está há muito tempo sem se ver, sem se encontrar. Eles não vão conseguir controlar distanciamento de adolescente, não tem como”, diz.

João Victor seguirá estudando em casa | Foto: Arquivo pessoal
As atividades presenciais serão retomadas de forma híbrida, com aulas presenciais e remotas; João Victor seguirá estudando em casa | Foto: Arquivo pessoal

“Agora que as taxas das UTIs estão baixas, eles querem aumentar? Quem vai se responsabilizar se meu filho contrair a Covid? E se ele trouxer pra casa? Eu não tenho confiança de mandar meu filho agora. Ele vai fazer as atividades aqui, dou o suporte que posso e é isso aí. No ano passado, nem isso teve, nenhum dia de aula [presencial]”, pontua.

Rebeca Santana, também mãe de estudante, já decidiu não levar o filho Isaque à escola neste momento. Para piorar, ela conta que o marido esteve na escola para pegar a atividade e viu que a maioria das pessoas mantinha a máscara no queixo. “Acho que o governo não está se recordando que ainda não tem vacina para as crianças. Nem máscara vão conseguir manter o tempo todo”.

Rebeca é uma das pessoas que perdeu pessoas queridas para a Covid-19 que, no caso, foi o pai dela. “Quem perdeu uma pessoa pra essa doença tem uma cautela muito maior: o medo de perder outra. Mantenho meu filho preso em casa e mais ainda depois que o meu pai morreu. Aí vou mandar pra escola, com pessoas que não sei como a família está vivendo, se estão se cuidando ou não?”, questiona.

A diretora Tânia Carvalho, do Colégio Estadual Doutor Joao Pedro Dos Santos, localizado na avenida Bonocô, vai acompanhar a decisão do governo e estará presente na instituição. Entretanto, ela afirma que não haverá professores, que já declararam apoio à posição do sindicato da categoria.

“O colégio vai estar aberto, a direção e os funcionários estarão presentes, porém os professores decidiram acompanhar a posição da APLB, de só retornar quando todos estiverem vacinados. Vamos abrir, mas não vamos ter professores. Eles não se sentem seguros, pois muitos ainda vão tomar a primeira dose e outros vão tomar a segunda no fim de agosto”.

Segundo a gestora, a maior parte das famílias já informou que não levará os estudantes: “Ontem tivemos reunião com os pais e a maioria disse que não ia mandar os filhos. Mas vamos aguardar. Nós – direção e funcionários – temos a obrigação de abrir o colégio, porém não haverá aula. Mas, chegando aluno, vamos recebê-los”.

Quem opta pelo retorno

No entanto, há estudantes que defendem a volta às aulas presenciais, como o Glauber Silva, 14, que mora e estuda no município de Araci. Ele afirmou que já foi contrário, mas mudou de opinião ao conhecer o risco de retrocesso do patamar educacional do país e a crise geracional, publicados pela Unicef e ONU.

Glauber afirma que voltar à escola será melhor, pois ele não se adaptou ao estudo em casa. “Tenho problemas de concentração e, em casa, é muito difícil fazer todas as atividades do colégio. É necessário que retornemos com a maior brevidade possível”.

Posição da APLB

A posição do sindicato da categoria é a de não retornar às salas de aula enquanto a imunização dos trabalhadores não estiver completa. Segundo a diretora da APLB Elza Melo, os professores continuarão em trabalho remoto, como estão desde o início da pandemia.

“Essa volta às aulas na segunda-feira não é concordância entre sindicato, trabalhadores e governo. Nós não vamos voltar. Dizer que é difícil a criança pegar o vírus, não é, não! Ela pega e ainda leva para casa”. Ela defende que se observe a situação das escolas, tendo em vista que, desde antes da crise, algumas unidades necessitavam de melhorias e adaptações na estrutura.

“É preciso que se cumpram os protocolos de biossegurança para que as aulas sejam retomadas com tranquilidade e segurança, tanto para os trabalhadores em educação, quanto para os alunos e as famílias. É preciso que o governador observe a condição das escolas, pois algumas não tem a mínima condição nem de funcionar sem pandemia, quanto mais com esse vírus”.

Secretaria de Educação

Apesar da retomada acontecer no fim de julho, desde março a Secretaria Estadual da Educação vem preparando as escolas, segundo explica a superintendente de Políticas para a Educação Básica, Manuelita Brito.

Ela destaca que a maioria das unidades já realizou as adequações necessárias aos protocolos, que já estavam desenhados desde o ano passado. “Não começou agora nem no anúncio do retorno híbrido, já há vários meses”, pontua Manuelita, que reconhece: “Agora, há algumas escolas que ainda não completaram esse planejamento”.

Ela ressalta que será necessário a união dos esforços dos professores, estudantes e famílias neste momento de retomada. “A secretaria acompanhou o quanto foi difícil fazer o retorno remoto, apesar das formações e capacitações que o Estado colocou à disposição. A gente precisa resgatar a confiança na escola e no valor do projeto educacional, que vai além da trajetória do conhecimento. Meu recado é: vamos converter os nossos receios no restabelecimento dessa confiança. Estamos fazendo o máximo possível. Se a gente faz esse movimento agora é porque a gente acredita que há melhores condições pra isso”.

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