Morte de líder quilombola causa comoção e deixa comunidades tradicionais e de matrizes africanas em luto


A comunidade simõesfilhense lamenta profundamente a morte do ex-candidato a vereador e líder quilombola “Binho do Quilombo”, assassinado na manhã desta terça-feira (19) dentro de seu carro no distrito de Pitanga de Palmares onde residia, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Testemunhas afirmam que um carro branco parou do lado do veículo da vítima e sem sair de dentro do automóvel os meliantes dispararam cerca de 14 disparos de arma de fogo contra Binho, que não teve tempo de reagir.

Nas redes sociais, familiares e amigos, deixam suas condolências pelo falecimento e prestam suas homenagens ao ativista, que durante muito tempo defendeu a bandeira da luta pela igualdade social e especialmente pelas comunidades tradicionais, negras ou de matrizes africanas.

Filho da Yalorixá e ex-secretária da Promoção da Igualdade Racial do município, Maria Bernadete Pacífico, que também é considerada uma grande militante na luta pela valorização das comunidades negras e menos favorecidas, Binho deixou enlutados dezenas de nativos e membros do Quilombo Caipora, onde nasceu e viveu até o dia de hoje.

Em nota, uma das representantes da religião de matriz africana na região, a Yalorixá Jaciara Ribeiro expressou o seu pesar em solidariedade à Bernadete e a todos que sentem pela morte do jovem líder.

Na nota, Jacira afirma que os conflitos pela posse de terras no Brasil tem sido motivo dos meios de excluir a população negra e lhe ceifar a dignidade e que essa prática secular permanece tirando vidas com tiros, facas ou canetadas, sendo permitida pela omissão do governo.

Confira a nota de pesar:

É com imenso pesar que eu, Yalorixá Jaciara Ribeiro, venho registrar minha solidariedade à Yalorixá Bernadete pela perda de seu filho biológico, bem como a toda comunidade do Quilombo Caipora pela violência tão brutal sofrida nesta manhã. Os conflitos de terra no Brasil tem origem colonial: um dos meios de excluir a população negra e lhe ceifar a dignidade foi negar-lhe terra pra viver e produzir seu auto-sustento, portanto,foi uma da vias de implantar o nosso genocídio. Essa prática secular permanece tirando nossas vidas com tiros, facas ou canetadas, quando não pelo próprio Estado, com a sua permissão silenciosa.

Por isso,registramos também, nosso repúdio a esses atos de violência e aguardamos que as instituições adotem providências urgentes para estancar o sangue do nosso povo que está a jorrar, não só na Bahia, como em todo o Brasil. Que nossos ancestrais tomem conta de quem está partindo e nos dêem força pra permanecermos resistindo, em luto, mas na luta! Jaciara Ribeiro Yalorixá do Axé Abassá de Ogum.